Em 1952, Mazzaropi estreava no cinema com grandes expectativas. Afinal, era um artista de sucesso no circo, rádio e televisão. Havia um grande nervosismo. Colocaria sua credibilidade, sucesso e prestígio em jogo nesta nova empreitada? Quer saber como a crítica recebeu o primeiro filme de Mazzaropi nos cinemas? Leia abaixo a matéria do jornal “A Hora”, publicada no dia 25 de agosto de 1952:

“PROVA DE FOGO NO CINEMA
Recomeçou a eterna correria. Agora tinha que ir e vir do Distrito Federal para cá, fazendo programas na T.V., no rádio e, de quando em vez, dando espetáculos teatrais. Choviam as propostas para novos serviços. Ele, contudo, era um só. Era um mortal, com necessidade de repouso. Transformava-se quase em vitima da própria fama, grangeada à custa de trabalho contínuo, de sacrifícios sem conta no começo da carreira. Não havia, ainda, posto os pés na estrada mais trabalhosa, no mais longo caminho de sua arte popular. Essa estrada se abriu à sua frente por obra do acaso, através da televisão…
DESCOBERTO POR TOM PAYNE
Mazzaropi, apesar de pioneiro da TV, não sabia que estava sendo apreciado daquela forma. No aparelho de Nick- Bar ele se projetava como figura de relevo.O estabelecimento nascera de uma cantina, nas proximidades do Teatro Brasileiro de Comédia. Dada à facilidade de acesso, os artistas teatrais ali se reuniam e o local passou a ser o centro oficioso de todas as conversas referentes à arte. O público em geral começou, depois, a frequenta-lo. Mas ele não perdeu aquela característica original. Ao contrario. Artistas do radio e mesmo do cinema foram para ali atraídos. Tom Payne era, nos momentos de folga, um de seus frequentadores. Certa vez, ali se achava quando reparou no programa do Mazzaropi. Jamais havia reparado naquela figura. E ela calhava direitinho, para o argumento de uma comedia que amadurecia o seu cérebro. O humorista tinha jeito para o cinema. Era um artista completo.
VITORIOSO NO TESTE
Não foi preciso muito trabalho para localizar o caipira-filosofo e convidá-lo para um teste no cinema. Meio assustado, como ocorrera no inicio da carreira do rádio e da televisão, lá se foi Mazaropi, disposto a tudo. A TV o havia acostumado com o cenario semelhante ao do cinema. Não havia mesmo grande diferença. A camera continuava, como sempre, a mira-lo com o seu unico olho.Não saberia de início, se seria aprovado. Precisava esperar um pouco. A resposta viria como uma grande surpresa: “O.K.”Dai para o primeiro filme foi um passo Mazzaropi aceitou o principal papel em “Sai da Frente”, filme de que todos os paulistanos estão lembrados. O Brasil, com o celuloide, começou a sair das comedias carnavalescas, apresentando um trabalho de maior valor. Isto sabemos após a exibição da cinta. Mas a estréia, para Mazzaropi, foi um problema.
PASSOU NA PROVA
O cinema, ou melhor, a filmagem do primeiro trabalho‘ absorveu o tempo do caipira-filosofo. Era trabalho de gigante. Quando se aproximou o dia do lançamento, ninguém mais aguentava o nervosismo do astro. Se a fita não agradasse, veria destruído parte de seu trabalho em formar um nome consagrado. Era a sua prova de fogo. Precisava passar por ela. E passou. No dia em que viu a frente do cine lançador toda enfeitada, ficou emocionado. Tudo dependeria daquela primeira vez. Mandou o secretario particular assistir à exibição, ver a reação do povo. Tinha que enfrentar a sorte. Não satisfeito com a opinião alheia, foi ele mesmo à sessão das 22 horas. O povo, de pé, o aclamou longamente.Suspirou aliviado. Tinha vencido no cinema. Era o inicio de uma grande carreira.”