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Meu Japão Brasileiro

O Estado de S. Paulo, 28 de janeiro de 1965

São Paulo é umas das cidades mais privilegiadas do mundo no que toca à exibição de filmes. Isso porque esta Capital é um dos poucos locais, senão um dos únicos em todo o mundo ocidental, onde se pode ver a maioria das produções realizadas no Japão. E esse fato permitiu aos paulistas tomarem conhecimento das existência e da obra de alguns cineastas que podem ser incluídos entre os melhores do mundo. É o caso de Tomu Uchida, Eizo Sugawa, Mikio Naruse, Yasujiro Ozu e Hideo Suzuki. Portanto, é lícito encontrar nas fitas paulistas influências do cinema nipônico. Isso até seria bom, capaz mesmo de revigorar a nossa Sétima Arte. Inclusive a ativa participação da coletividade japonesa no nosso Estado está a exigir uma película a respeito, dramática ou cômica, mas feita com seriedade e cuidado. Infelizmente, Meu Japão Brasileiro não é a realização que os “nisseis” estão a merecer e nem tampouco denota benéficas influências de fitas nipônicas.

De verdade, ninguém esperava desta apresentação de Mazzaropi algo de moderno e inusitado, mas não seria muito exigir que o atual cartaz dos Cines Paissandu e Art-Palacio oferecesse, mesmo no plano do simples entretenimento, uma comicidade mais original e menos apegada a tantas fórmulas convencionais, bem como um estudo mais apurado da serenidade e do labor eficiente dos japoneses no Brasil.

De pouco adianta a correção artesanal e o cuidado plástico evidenciados pela direção de Glauco Mirko Laurelli, pois o que prevalece é um entrecho totalmente canhestro, com incidentes que se precipitam, não oferecendo a menor surpresa, visto estarem apoiados em chavões já caducos no nosso cinema (e não só nele) como também na televisão. Além de “gags” pouco interessantes, para alongar inutilmente a fita, temos ainda três números musicais. Mas não obstante a ausência total de estrutura, o filme está alcançando boa receptividade por parte do público. É o caso de se afirmar que cada país tem a “chanchada” que merece.

Além dos acertos da direção, o filme conta ainda, em seu pequeno saldo positivo, uma bela fotografia em cores claras do extraordinário Rudolph Icsey, que valorizou os locais onde a história foi filmada.

Meu Japão Brasileiro não dá boa oportunidade para nenhum ator, a não ser o “astro” principal. Mas mesmo assim é perceptível a naturalidade de Elk Alves (o jovem que se casa com a “nissei”) e principalmente de Celia Watanabe, que com sua beleza e peculiar desembaraço consegue escapar do ridículo até mesmo em situações extremamente grotescas como o número musical tipo “La Violetera”.