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Fiel a seu público

O Estado de S. Paulo, 08.09.79, PG. 14

Depois de ficar um ano afastado por doença, Mazzaropi retorna com sua fita anual, onde pela primeira vez é forçado a recorrer a um título apelativo: “A Banda das velhas virgens”.

Quando até Mazzaropi tem de apelar, dá pra sentir a barra do mercado consumidor de filmes nacionais. É verdade que o título tem pouco a ver com a história, a não ser nos primeiros cinco minutos onde tentam justificá-lo. Mas, logo o obstáculo é esquecido em troca da velha trama do casal de filhos pobres que namoram os filhos do patrão. Para dar um toque mais dramático, um deles é aleijado (e surpreendentemente Mazzaropi consegue evitar a cena em que ele se recupera e volta a andar) e a moça rica é egoísta e incoerentemente aproveitadora.

É lógico que nenhum dos personagens ou situações tem a menor lógica, mas pelo menos Mazzaropi situa sua história numa espécie de Terra do Faz-de-Conta, onde as pessoas podem ficar ricas trabalhando no “lixão”, a polícia é compreensiva e as milionárias têm rasgos de generosidade. São elementos tão caducos e ingênuos que chegam mesmo a ter uma certa graça, quando manipulados na figura caricatural mais comunicativa do herói.

Quem viu um filme de Mazzaropi, já viu todos. São sempre rodados nos estúdios do autor em Taubaté (um campo técnico que absurdamente ele nunca utilizou para produzir outros filmes), com som direto (que como sempre falha em externas), cenografia espantosamente ruim (a cena do baile da Princesa Isabel é uma catástrofe), um inevitável número musical (desta vez, fazendo a estética da pobreza) e uma trilha musical de taquara-rachada. A fotografia é sempre boa e os atores se defendem como podem (embora, como sempre, Geny Prado seja a melhor figura).

Desta vez, há até piadas inventivas (como a do Santo Antônio que foge da Igreja para não ser roubado), mas o roteiro é muito fraco, ainda com ranço de teatro mambembe. Está chegando o momento em que Mazzaropi precisa se renovar ou acabar como uma decadente peça de museu.