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Conversando com a platéia

Jornal do Brasil nº 127; pg 2; 4 de agosto de 1978

Jeca e Seu Filho Preto,
mais um êxito de bilheteria de Mazzaropi

Mazzaropi é um dos cômicos brasileiros de maior penetração junto às camadas populares. Ano após ano vem produzindo e interpretando filmes que apresentam o maior sucesso de bilheteria. Seu público é fidelíssimo e ri ao menor gesto do Jeca. Não importa quão maniqueístas sejam suas histórias ou esquematizados seus personagens. O que interessa é o diálogo público/protagonista. Ele conversa com quem está na platéia e transmite ao espectador uma cumplicidade que prende a atenção. Enquanto o cinema brasileiro discute tanto a conquista do mercado e a necessidade de produtores independentes, para Mazzaropi isso deixou de ser problema.

Seria muito simples considerar Jeca e Seu Filho Preto um filme ruim. Ele realmente não preenche determinados padrões que o consenso considera bom. Contudo, gostaria de manifestar publicamente minha impotência em lidar com verdades absolutas. Assisti o filme, sem olhar para o relógio de cinco em cinco minutos, o que me acontece freqüentemente quando certos embustes culturais são projetados na tela.

A história do filme é exatamente a da sinopse. Jeca é alvo de curiosidades por ter um filho preto e outro branco, e o namoro do primeiro com a filha, do fazendeiro, seu patrão, faz com que sua família seja vítima de perseguições.

A produção é caprichada e a direção inexistente, pois o importante no filme é a presença de Mazzaropi.

Enfim, que me perdoe a intelligentzia, mas depois de ter me divertido com o humor sofisticado e dinâmico de Gene Wilder e de Marty Feldman em O Maior Amante do Mundo e A Mais Louca de Todas as Aventuras de Beau Geste chegou a vez do mesmo acontecer com o desengonçado o caipira Mazzaropi.